Aprender através do corpo - Do que se trata?
A aprendizagem através do corpo é uma ferramenta para acessar os próprios recursos profundos. Permite-lhe experimentar a energia que move sua vida e a que a limita.
Possibilita também que você aprenda a ser seu próprio corpo, e a deixar de lado crenças, medos e atitudes que o isolam e o prejudicam.
O FLUXO DO MEDO
A energia que nos move é uma força física, concreta e perceptível no corpo. É a energia que vem da terra, é um fluxo que se experimenta na coragem de agir no mundo, fluindo com o objetivo de preservação e expansão da vida.
Um fluxo natural que pertence a todos os seres vivos, sem o qual eles permaneceriam imóveis.
O outro "lado da lua" desta energia é o medo da perda de vidas: em situações perigosas, é o medo que faz com que este fluxo flua impetuosamente.
Mesmo para cada pequena coisa que acontece, o medo é o motor da ação.
É uma energia que nos faz ousar nascer, chorar pela primeira vez, mover nossos braços e pernas, ficarmos em pé; e se um obstáculo não nos permite dar os primeiros passos, nos dá força para movê-lo ou simplesmente desviar ou voltar.
Podemos nos imaginar como recipientes que contêm este fluxo. Quando nascemos, somos pequenas caixas prontas para crescer e conter mais e mais.
Se o obstáculo que impede a expansão da vida exigir uma energia que nossa caixa possa conter, o fluxo do medo ocorre livremente e podemos mover corajosamente o obstáculo e avançar um passo.
Se, por outro lado, o obstáculo é muito grande, a ponto de demandar um fluxo mais intenso do que nossa caixa ainda em formação (como a de uma criança) possa conter, esse fluxo "transborda", e experimentaremos uma sensação de pânico, de congelamento, nos sentindo subitamente incapazes de lidar com algo que parece maior do que somos.
Como uma criança quando vê um gato zangado pular sobre ela, arregala os olhos imediatamente e contrai os músculos, como se estivesse congelada, sentindo-se incapaz de se defender ou escapar.
Esses momentos podem ser muito dolorosos e dramáticos, e o congelamento é um estado de anestesia para desconectar o insuportável.
Nesse instante, o organismo responde imediatamente em nível biológico/fisiológico, ativando seus programas especiais de sobrevivência comprovados na evolução da vida, de acordo com as leis biológicas da natureza.
Rotinas: Atitudes automáticas para não sentir medo
Mesmo quando o recipiente se tornar muito maior e capaz de conter a energia necessária para lidar com tal situação, o indivíduo pode experimentar a memória impressa no corpo, daquela dor e terror incontrolável, e acaba agindo com a mesma desconexão que funcionou da primeira vez (porque apesar de tudo, permitiu sua sobrevivência).
Os modos de desconexão podem ser diversificados e multiformes, concebidos precisamente para não mais enfrentar aquela dor que era "muito grande, incontrolável".
A tentativa de cortar essa experiência requer muita energia, de modo que as atitudes se estruturem e se tornem rotinas automáticas, funcionais, da mesma forma que agem as rotinas motoras quando se aprende a andar de bicicleta, as quais, em determinado momento, não exigem mais tanta atenção, e nos permitem “pilotar” automaticamente. Um sistema para se domesticar e aparentemente viver sem esforço com o insuportável.
As rotinas absorvem constantemente energia, estabelecendo um tampão contra a dor e o medo, percebidos como entidades externas a serem evitadas, como se não fizessem parte de nós, mas na verdade são uma fonte de energia vital.
Com o tempo, aprendemos a praticar esta maneira de reagir tão bem - sempre evitando essas sensações - que nos convencemos de que é a melhor e única maneira, tornando a própria atitude um componente de nossa existência.
Assim, tendemos a evitar todas as experiências que se assemelham e recordam essa dor, fazendo com que esse modus operandi se confirme e se consolide cada vez mais.
Repetindo o passado dentro de uma gaiola invisível
Não haveria nada de errado se as coisas fossem sempre as mesmas. Em vez disso, cada momento é completamente diferente do anterior, assim como nosso recipiente é sempre diferente e maior.
Continuar a reagir à velha dor da mesma forma, limita drasticamente o contato com a realidade do que é, aqui e agora. Perde-se toda possibilidade de escolha, transforma-se a vida em algo sempre igual, repetitivo, tira-se a intensidade, a cor, o prazer, a excitação, colocando-se, mesmo que sem se dar conta, em uma posição de luta contra si mesmo por não querer sentir esse medo e dor.
Constrói-se uma gaiola na qual se tem a impressão de segurança. Mas ainda é uma gaiola. Uma pessoa pode permanecer nela por anos, e tendo sobrevivido até esse ponto, e se quiser, pode continuar a fazê-lo para o resto de sua vida.
Talvez até o ponto em que comece a sentir cansaço, limitação, frustração pela sensação de que tudo é sempre o mesmo e que uma certa quantidade de sofrimento nunca parece acabar. Ou até que o organismo, encerrado em um espaço apertado que não lhe permite viver de acordo com as leis da natureza, reaja com programas biológicos tão prolongados que se tornem debilitantes (doenças) e deixem a pessoa apreensiva.
Ousando abrir a gaiola
Nesses dois casos, pode ser conveniente colocar-se na posição de fazer algo diferente para lidar com a dor e o medo a fim de ousar sair da jaula.
Se alguém ousasse, começaria a enfrentar essa dor com os recursos atuais do próprio recipiente, reconectando toda a energia que havia sido bloqueada a fim de evitar a dor e manter a própria gaiola.
É um pequeno passo, que equivale a um crescimento.
Como um homem de repente percebeu que, quando era criança, bater com a cabeça na quina da mesa era muito doloroso e perigoso, mas agora que cresceu, a quinta bate-lhe na coxa; e então, com energia renovada e sem terror, ele pode finalmente começar a correr feliz ao redor da mesa novamente.
As atitudes de gaiola que construímos para nós mesmos são registradas em nossos músculos, tensões, ossos, atmosferas emocionais, cadeias de pensamentos... em uma palavra: no corpo.
Ao prestar atenção a tudo o que você cria em seu corpo como reação para evitar essa dor/medo, com o tempo, você aprende a forma precisa da gaiola, a maneira como você a constrói para si mesmo, começa a tomar suas medidas, começa a ver como ela é feita e, acima de tudo, a perceber que há algo lá fora.
Uma vez que você tenha dominado isso, a ousadia de abrir torna-se possível: naquele momento você experimenta algo totalmente novo em seu corpo (em seus músculos, em seus vários órgãos, em suas atmosferas emocionais, em seus pensamentos...), com a liberação do fluxo do medo.
Esta é uma energia muito física e tangível, fluindo livremente por todo o corpo, finalmente disponível para a expansão da vida na direção do próprio potencial, seja ele qual for.
Se você não reconhece a sensação física de que está falando, tente se lembrar daqueles momentos em que você sentiu uma coragem incomum e explosiva ao realizar um ato importante em sua vida: você não percebeu o "medo" como é comumente entendido, mas que a força que tudo engloba é de fato o medo "na natureza", livre para fluir sem obstáculos.
O corpo fechado na gaiola reage: programas biológicos
Quando um organismo sofre um choque repentino que não pode suportar, reage sensatamente em nível fisiológico para sobreviver.
Por exemplo, se eu tropeçar inesperadamente num degrau, o corpo ativa um conjunto de programas automáticos de fisiologia especial, tais como descargas hormonais, vasoconstrição, aumento da freqüência cardíaca, tensão muscular, etc., com o objetivo de trazer meus braços para frente em tempo zero para me proteger da queda, corrigir meu equilíbrio e, por fim, sobreviver ao acidente.
Esses processos ocorrem continuamente no corpo, são completamente sensatos, necessários e seguem regras naturais que estão resumidas nas 5 Leis Biológicas.
O mecanismo linear sem alterações é assim: um organismo está em cheque, digamos em risco de sobrevivência, portanto reage fisiologicamente para sair da situação crítica; depois, as funções fisiológicas especiais podem retornar às funções normais.
Neste caso, o processo fisiológico é breve, às vezes pode até passar despercebido sem quaisquer sintomas, ao passo que às vezes podem ser fortes, mas "pontuais". Quase nunca é necessário intervir para apoiar o curso.
Se, no entanto, a situação crítica persistir ou se repetir com frequência, a fisiologia especial é mantida ativa a fim de encontrar uma solução o mais rápido possível.
Esse é o caso das atitudes em gaiola, rotinas dentro das quais o corpo muitas vezes se encontra em posições anti-biológicas (anti-vida), em contínuas tentativas de reagir com fisiologia especial.
Todas as chamadas doenças são fases de fisiologia especial, e não há sintomas fortes e perceptíveis sem a presença de uma situação de gaiola de atitude que faz com que a fisiologia especial persista, resultando no acúmulo até mesmo de sintomas crônicos muito graves.
Para dar um exemplo surreal, mas simples, é como se depois de tropeçar no degrau, eu continuasse a fazê-lo sem interrupção: todas as funções fisiológicas especiais permaneceriam ativas e se tornariam 'crônicas', por exemplo, eu me encontraria em uma taquicardia constante.
A atitude que se repete constantemente, como já vimos, consolida-se de tal modo que se torna parte da própria identidade: "Isto é quem eu sou", "não tenho medo", "sou tímido", "sou bom, mas se eu ficar com raiva..." etc.
Assim, a tentativa de parar a rotina pode ser percebida como a morte de uma parte de si mesmo.
É por isso que às vezes pode ser muito difícil lidar com o instinto de preservação. É uma luta consigo mesmo, porque o medo de perder a própria identidade é equivalente a sentir-se morto. A única saída não é lutar, mas desistir e deixar de lado as crenças sobre si mesmo.
Além disso, muitas vezes, as rotinas que se constrói são enxertadas dentro de um sistema de atitudes e comportamentos alheios, e sua existência sustenta uma série de vantagens relacionais para a pessoa, que pode claramente não estar disposta a perder.
Aprendendo através do corpo
Viver as próprias atitudes em rotinas, é viver em um passado que se repete, não se dando a oportunidade de perceber o presente. E quando se é igual a si mesmo, sempre se recria a mesma realidade na vida.
Aprender através do corpo como essas atitudes repetitivas são construídas, permite dar-se a oportunidade de parar o automatismo e escolher o melhor possível de acordo com a situação naquele momento preciso, e não de acordo com uma reação que vem do passado.
Aprender não é necessariamente confortável, pelo contrário, é confortável o que você sabe, é confortável ficar em sua jaula segura.
De fato, muitos percebem coisas novas na vida como um problema a ser resolvido e não como uma oportunidade de aprender.
Percebem, no entanto, que em certos momentos estão vivendo uma vida que não lhes pertence, com um potencial que não pode ser expresso, tão limitado que às vezes o corpo tenta compensar em seu próprio nível, o nível fisiológico (com patologias).
Em vez disso, pode-se aprender a escolher a própria vida, a trazer todas as qualidades a cada ocasião, a se aproximar de situações com mais e mais de si mesmo, a permitir que o próprio potencial seja expresso.
Aprender a crescer nos é concedido a cada momento. A capacidade de aprender está diretamente ligada à capacidade de deixar o medo fluir, de soltar a velha gaiola de atitude e ganhar algo novo e desconhecido. Esse aprendizado não é alcançado com a mente, mas com atos concretos e com o corpo inteiro.
Tornar-se o próprio corpo novamente significa experimentar o que é, aqui e agora, reduzir a distância de si mesmo, aproximar-se dos próprios recursos.
Aprender Através do Corpo permite aprender com seu corpo e com as ferramentas do Método Grinberg, o que limita sua vida e, se você tiver disposição, estabelecer as condições para removê-las.
Aprender através do corpo também permite, à luz das leis biológicas da natureza, aprender com as manifestações e sintomas do próprio corpo o que são aquelas gaiolas perceptivas muitas vezes invisíveis; uma ferramenta para conectar com o que se é e se sente visceralmente, muitas vezes muito diferente do que se pensa e acredita sobre si mesmo; e, por último, mas não menos importante, permite deixar de lado aqueles medos induzidos por clichês de saúde que podem limitar dramaticamente as funções vitais de cura do corpo.
V. 2.1.1 in adattamento crescente